quarta-feira, 29 de julho de 2015

Aos 74 anos, aposentada realiza o sonho de aprender a ler e a escrever


Fabiana Marchezi
Do UOL, em Campinas (SP)
  • Arquivo pessoal
    "Não tem coisa mais maravilhosa do que ir pra escola", diz dona Alezina
    "Não tem coisa mais maravilhosa do que ir pra escola", diz dona Alezina
"Aprender a ler, escrever e frequentar uma sala de aula". Esse sempre foi o sonho de dona Alezina Costa Marques. Sonho que a moradora de Itupeva (a 76 quilômetros de São Paulo) só está concretizando agora, aos 74 anos, depois de adiá-lo várias vezes, por motivos diversos.
"Hoje, eu sou uma pessoa feliz. Ah, como eu gosto de estudar! Pra mim, é um divertimento, uma distração. Não tem coisa mais maravilhosa do que ir pra escola", afirmou a aposentada.
Na infância, o desejo teve de ficar de lado porque o pai de dona Alezina era muito rígido e a proibiu de frequentar as salas de aula. "Eu chorava quando via as outras crianças indo pra escola. Mas meu pai dizia que minha escola era trabalhar e me levava pra roça todos os dias".
Dona Alezina cresceu, se casou e vieram os filhos: Aparecido, 46, Lindrasi, 42, e Elisa, 40, que viraram sua prioridade. "Como eu não pude ir pra escola, fiz questão que meus filhos fossem. Sempre incentivei e lutei pra que eles estudassem", disse.
E conseguiu. Aparecido se formou num curso técnico de mecânica. Lindrasi está terminando a faculdade de fisioterapia e Elisa é formada em biologia.
Depois de incentivar os filhos, Alezina teve de se dedicar ao marido, que sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e precisou dos cuidados intensivos por dois anos, até que veio a falecer. 
Após a morte do pai, as filhas de Dona Alezina, que moram com ela, passaram a incentivar a mãe a estudar. "Ela abriu mão da vida dela por nós. Hoje, nós é que a incentivamos a realizar esse sonho. É muito bom vê-la tão feliz", disse Elisa.
Há dois anos, dona Alezina faz parte do EJA (Educação de Jovens e Adultos), na Escola Municipal Victória Cômodo Raymundo Fernandes, em Itupeva, onde, além do português, ela aprende matemática e computação.
Mas o aprendizado não para na sala de aula. A filha Lindrasi dita frases novas todos os dias para que ela treine a escrita em uma lousa que fica na cozinha da casa delas.
"Minha irmã ajuda minha mãe a memorizar. Ela passa a frase e ela escreve. É muito bom retribuir de alguma maneira o que ela fez por nós. É muito bom vê-la realizando esse sonho de infância", comentou a filha Elisa.
Arquivo pessoal
A filha Lindrasi dita frases novas todos os dias para que ela treine a escrita

Um comentário:

  1. Infelizmente existe muitas Alezinas em nosso País. Eu mesmo fui vítima desta ignorância.Como sabido, nós que nascemos nos sítios de Taquaritinga do Norte há 50 anos atrás, não tínhamos condições de ira à escola, pois não existia. Em Serra dos Bois, tivemos a chance de Tia Bia, ensinar as primeira letras a muita gente de minha geração. E Tia Silva, que morava no sítio Barrocas, de Barra de São Miguel. Porém, por razões políticas,que não veem ao caso agora, ficamos proibidos de estudar com Tia Bia e com Tia Silva, por um bom tempo. Mesmo assim, estudei até aos dez anos e me sinto grato a minhas professoras queridas de Serra dos Bois. Embora, a educação não era levada a sério naquela época como hoje em dia também.

    ResponderExcluir

Taquaritinga do Norte, no Agreste de Pernambuco, é o município que mais depende do abastecimento de água por carro-pipa em Pernambuco

  Taquaritinga do Norte,   no Agreste de Pernambuco, é o município que mais depende do abastecimento de água por carro-pipa, segundo o Censo...